O velho e o
novo; o obsoleto e o moderno; assim se costurou o “mito” de José
Sarney como o “salvador” do Maranhão.
O atual Senador do Amapá encampou
várias dimensões discursivas para se compor e recompor-se no
imaginário local, dentre aquelas, o discurso regionalista –
ou o discurso performativo – um enunciado proporcional à
autoridade de quem o anuncia: “o” José Sarney.
Irei tratar dessa primeira
e essencial dimensão.
Dizia José Sarney que “Coube-me,
pelas mãos do destino,
viver etapas importantes no desenvolvimento deste Estado, vincular-me
de maneira definitiva em sua trajetória rumo ao progresso.”.
O destino a que o político refere-se
intercala “elementos da religiosidade” (Deus como seu “provedor”)
ligados ao “ethnos”.
Veja o
discurso de “seu” destino:
“O deus primeiro o
Deus da minha fé, da minha submissão [como religioso fervoroso] à
sua voz semeadora dos destinos, que me guardou nas dúvidas, encheu
de certeza os meus clarões de perplexidades, me estendeu a mão
firme de pai para que eu apertasse ao calor de suas crenças; que me
criou José, que me fez Sarney [foi
“ungido”]
e cobriu a minha cabeça da coroa fria e sem
vaidade dos dias que me entregou e eu plantei.”.
No papel de gestor,
definia-se como “o” Governador que quando “fui escolhido
Governador” (por Deus e pelo
povo!).
O povo-eleitor,
acredito que Deus também, delegaram-lhe
como destino o “projeto” Maranhão Novo que serviu para montar
“as infraestruturas
que possibilitaram
grandes transformações
[em ação, o
“visionário”] no MA.
Era a época de pobreza absoluta –
quiçá mudou.
Não tínhamos um quilômetro de
estrada asfaltada; o Estado possuía apenas um ginásio público;
toda a energia instalada era de 10 megawatts, inferior ao consumo do
edifício Avenida Central (RJ)
então referência para
comparações, onde se
consumiam 16.000 kilowatts!
A idade média de vida do
maranhense era de 29 anos. São
Luís tinha 150.000 habitantes.
“O” líder assegurava
que “Em
todos os setores havia a presença das mudanças. Tudo que foi
possível ampliar depois nasceu daquela visão de um Maranhão Novo.
Um Estado pobre, que cresceu pelas mãos e a imaginação [do
aparato técnico
burocrático
reestruturado com vistas atender à Ditadura]
de uma equipe do seu povo, que depois veio a ocupar grandes postos de
direção no País, que planejou e executou essa transformação.”.
O MA passa a existir para a economia
regional e nacional, após o Maranhão Novo, isto é, depois da
existência do Senador.
Sarney Filho testemunhava que “Meu
pai tem sido um benemérito do Maranhão [o
redentor do Maranhão?].
Foi responsável pelo único planejamento estratégico que o Estado
conheceu [o
“estrategista”];
pelas condições necessárias para torná-lo uma das maiores
unidades da Federação [?]. Garantiu-lhe projeção intelectual e
política [o
acadêmico instaura um aparato burocrático respaldado em critérios
de “competência e de saber” delimitados
por ele],
chegando, através de trabalho determinado ao Congresso Nacional, ao
governo do Estado, à Academia Brasileira de Letras e à Presidência
da República. Meu pai é um homem bom, de boa-fé. [...] Ele
constitui uma página da História do Brasil.”.
O filho discursava contra antigo
aliado do “Pai”, Cafeteira, e continuava: “Como
todo o povo do Maranhão, é com o consentimento de perplexidade e
espanto que vejo você
renegar [aqui
fala da “cria” política do “Pai” que continuamente em
intervalos de “tempo” atemporais, vem atacar o “Pai” político
–
algo já comum no berço oligárquico]
os compromissos e atacar, gratuitamente, o presidente José Sarney,
que lhe cumulou de gentilezas, de amabilidades, de prestígio com
essa grandeza e esse coração que Deus [perceba,
a paternidade
“divina”] lhe deu.”.
Portanto, a mito do “filho do Pai”
ungido construiu-se em duas frentes: a primeira no salvamento da
“terra esquecida” por Deus (o clássico épico regionalista
mitigado pelos “antigos” coronéis nordestinos), e a segunda,
pelo olvidado poder estatal. “Ele” [José
Sarney]
é/foi/será o nosso redentor (?).
Continuo depois.