segunda-feira, 30 de setembro de 2013








O velho e o novo; o obsoleto e o moderno; assim se costurou o “mito” de José Sarney como o “salvador” do Maranhão.
O atual Senador do Amapá encampou várias dimensões discursivas para se compor e recompor-se no imaginário local, dentre aquelas, o discurso regionalista – ou o discurso performativo – um enunciado proporcional à autoridade de quem o anuncia: “o” José Sarney.
Irei tratar dessa primeira e essencial dimensão.
Dizia José Sarney que “Coube-me, pelas mãos do destino, viver etapas importantes no desenvolvimento deste Estado, vincular-me de maneira definitiva em sua trajetória rumo ao progresso.”.
O destino a que o político refere-se intercala “elementos da religiosidade” (Deus como seu “provedor”) ligados ao “ethnos”.
Veja o discurso de “seu” destino:
O deus primeiro o Deus da minha fé, da minha submissão [como religioso fervoroso] à sua voz semeadora dos destinos, que me guardou nas dúvidas, encheu de certeza os meus clarões de perplexidades, me estendeu a mão firme de pai para que eu apertasse ao calor de suas crenças; que me criou José, que me fez Sarney [foi “ungido”] e cobriu a minha cabeça da coroa fria e sem vaidade dos dias que me entregou e eu plantei.”.
No papel de gestor, definia-se como “o” Governador que quando “fui escolhido Governador” (por Deus e pelo povo!).
O povo-eleitor, acredito que Deus também, delegaram-lhe como destino o “projeto” Maranhão Novo que serviu para montar “as infraestruturas que possibilitaram grandes transformações [em ação, o “visionário”] no MA.
Era a época de pobreza absoluta – quiçá mudou.
Não tínhamos um quilômetro de estrada asfaltada; o Estado possuía apenas um ginásio público; toda a energia instalada era de 10 megawatts, inferior ao consumo do edifício Avenida Central (RJ) então referência para comparações, onde se consumiam 16.000 kilowatts!
A idade média de vida do maranhense era de 29 anos. São Luís tinha 150.000 habitantes.
O” líder assegurava que “Em todos os setores havia a presença das mudanças. Tudo que foi possível ampliar depois nasceu daquela visão de um Maranhão Novo. Um Estado pobre, que cresceu pelas mãos e a imaginação [do aparato técnico burocrático reestruturado com vistas atender à Ditadura] de uma equipe do seu povo, que depois veio a ocupar grandes postos de direção no País, que planejou e executou essa transformação.”.
O MA passa a existir para a economia regional e nacional, após o Maranhão Novo, isto é, depois da existência do Senador.
Sarney Filho testemunhava que “Meu pai tem sido um benemérito do Maranhão [o redentor do Maranhão?]. Foi responsável pelo único planejamento estratégico que o Estado conheceu [o “estrategista”]; pelas condições necessárias para torná-lo uma das maiores unidades da Federação [?]. Garantiu-lhe projeção intelectual e política [o acadêmico instaura um aparato burocrático respaldado em critérios de “competência e de saber” delimitados por ele], chegando, através de trabalho determinado ao Congresso Nacional, ao governo do Estado, à Academia Brasileira de Letras e à Presidência da República. Meu pai é um homem bom, de boa-fé. [...] Ele constitui uma página da História do Brasil.”.
O filho discursava contra antigo aliado do “Pai”, Cafeteira, e continuava: “Como todo o povo do Maranhão, é com o consentimento de perplexidade e espanto que vejo você renegar [aqui fala da “cria” política do “Pai” que continuamente em intervalos de “tempo” atemporais, vem atacar o “Pai” político – algo já comum no berço oligárquico] os compromissos e atacar, gratuitamente, o presidente José Sarney, que lhe cumulou de gentilezas, de amabilidades, de prestígio com essa grandeza e esse coração que Deus [perceba, a paternidade “divina”] lhe deu.”.
Portanto, a mito do “filho do Pai” ungido construiu-se em duas frentes: a primeira no salvamento da “terra esquecida” por Deus (o clássico épico regionalista mitigado pelos “antigos” coronéis nordestinos), e a segunda, pelo olvidado poder estatal. “Ele” [José Sarney] é/foi/será o nosso redentor (?).
Continuo depois.





domingo, 29 de setembro de 2013

Do discurso de José Sarney, e o do Pe. Antonio Vieira...


As vozes que aqui se ouviam eram gritos roucos e vazios, que se perdiam por não serem escutados, porque não significavam nada, senão a voz bolorenta de anacronismo. Por todo o Maranhão espalharam-se métodos de tortura, de extorsão, do saque, do marasmo e do não-fazer; do deixa, do larga, do espera, do fica-aí, do está-dando, do não-adianta; enfim as luzes baixas que não aquecem e não iluminam. Até onde a responsabilidade da Nação brasileira está comprometida neste campo de concentração que era o nosso Estado? Nesta ilha de atraso em que estamos? Disse José Sarney (1970) in “Governo e Povo”.

 
Quer pesar o sol um Piloto nesta Cidade onde estamos, e não no porto, onde está surto o seu navio, senão com os pés em terra: toma o Astrolábio na mão com toda a quietação e segurança. E que lhe acontece? Coisa prodigiosa! Um dia acha que está o Maranhão em um grau; outro dia em dois; outro dia em nenhum. E esta é a causa por que os Pilotos que não são práticos nesta Costa areiam, e se têm perdido tantos nela. De maneira que o Sol, que em toda parte é a regra certa e infalível por onde se medem os tempos, os lugares, as alturas, em chegando à terra do Maranhão, até ele mente. E terra onde até o Sol mente, vede que verdade falarão aqueles sobre cujas cabeças e corações ele influi. Nos disse Padre Antonio Vieira in “Sermão da Quinta Dominga da Quaresma”

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

"Coronelismo eletrônico?” – a construção política do Grupo Sarney e o uso do aparelhamento da mídia no Maranhão (PARTE I)

Desenvolvo esta análise a partir da construção de um novo (ou velho?) coronelato apoiado na mídia eletrônica que teve início nos primórdios da Ditadura e veio adquirir novo contorno com o processo de redemocratização. Hoje esse modelo está na contramão dos novos anseios da sociedade brasileira. Está em queda livre, basta verem-se os últimos resultados nas eleições. O espaço adquirido pelo controle social dos meios de comunicação tem colocado em xeque os parlamentares eletrônicos.

No espaço da política do Maranhão há uma prática social dialógica na qual o político local pelo uso de uma “linguagem” sociolingüística “produz” o sustento dessas caducas práticas políticas. O “tempo político” desses agentes, aqui no Maranhão, vai embaralhar-se em discursos que usam uma linguagem performática construída historicamente – o “apogeu” e a “decadência” do Estado.

Essa teorização do apogeu e da decadência é explicada pelo discurso da “revitalização do Maranhão”, discurso utilizado como prática no mercado lingüístico maranhense, apontado pela professora Fátima Gonçalves na sua obra “A reinvenção do Maranhão dinástico”, onde diz que “O discurso da decadência, o discurso do apogeu do passado, o discurso da revitalização do passado, o discurso da idealização do passado sobre o Maranhão, presentes nas formulações, explicações e produzidos nos campos intelectual e político, têm suas bases assentadas nas relações e lutas travadas no campo intelectual assim legitimadas. Relacionam-se, nesse sentido, à construção de uma representação de um Maranhão cortado pelos planos de tempo – passado, presente e futuro, intrinsecamente ligadas, em que um não existe sem referência ao outro.”

O tempo no Maranhão embaralha-se nas práticas discursivas dos nossos políticos onde seus discursos vão influenciar políticas locais que ficam à mercê dos passados remoto e próximo, do presente e da esperança num futuro. Nessa costura, percebe-se a sublimação de um arquétipo de “messianismo político”.

A polissemia do discurso político acompanha o tempo institucionalizado num “grande tempo” – um diálogo com o infinito, inacabado; ao passo que o “pequeno tempo” é o dia de hoje, o passado recente, o futuro esperado. Nossos agentes políticos construíram historicamente o grande tempo, deixando-o permanentemente sendo revitalizado e reinterpretado, mas usando a mesma linguagem performática e as mesmas condições de produção da linguagem.

Nesse controle político local via práticas discursivas foi o Grupo de José Sarney que ficou com o faturamento da “produção de sentidos”: com o uso de seu aparelhamento midiático local.

As articulações de símbolos, do imaginário coletivo e das representações funcionam como “aparelhos” bem utilizados desde o Maranhão Novo, Governo de José Sarney, com o propósito de seduzir nossa audiência – o eleitor, leitor, ouvinte maranhenses.

Nesse contexto a mídia do Grupo Sarney assume papel relevante na produção de sentidos para o sujeito – a nossa audiência. O poder da mídia funciona como um instrumento de “consciência moderna” que confere “visibilidades e verdades” sem precedentes aos acontecimentos, ou seja, é um meio poderoso de criar e fazer circular conteúdos simbólicos e é transformador, sendo um poder pouco estudado, ainda é subestimado.

O sarneísmo decorreu do “projeto” Maranhão Novo, no qual a mídia utilizada “pelo” e “do” grupo assumiu um papel crucial de produção de sentidos, visto que funcionou como um instrumento de “consciência política” local que transformou os campos simbólicos existentes.

Na relação social com os atores (eleitor – ouvinte – leitor) envolvidos, o sistema midiático sarneísta cria o seu “tempo” e seu “espaço” com o uso de “fabricação de crenças”.

Já o professor Francisco Gonçalves na sua dissertação “O rapto da máscara mortuária: as astúcias enunciativas da Coluna Sarney e a composição – transformação de identidades públicas nas eleições de 1994”, aborda como as relações do jornalismo com o discurso e suas representações vão definir padrões de aliciamento por parte de grupos políticos – no Maranhão o alicerçado foi desenvolvido pelo Grupo Sarney: “[...] parti do pressuposto que o jornalismo não se constitui apenas em um dispositivo de revelação do que se passa em outra cena, mas, através de dispositivos e enunciação, age sobre a atividade política, interferindo na configuração de cenários, na composição das identidades públicas e no rumo dos próprios acontecimentos [...]”.

O papel da mídia no discurso do clã Sarney foi fundamental para construir um modelo que levasse a audiência a crer nas simbologias desenvolvidas que serviram na manipulação e anestesia do eleitor.

No tópico seguinte tratarei do “caciquismo eletrônico” de José Sarney tendo como marcos históricos a Ditadura e a Nova República.